Audiência pública na Câmara expõe necessidade de avanços em políticas públicas para comunidade surda
A
Câmara de Vereadores de Blumenau realizou, na noite desta quarta-feira (5), no
Plenário da Casa, uma audiência pública com a Associação dos Surdos de Blumenau
(ASBLU), para debater projetos e assuntos como desenvolvimento inclusivo,
identificação de problemas, acessibilidade e representatividade. O debate
atendeu ao Requerimento nº 795, de
autoria do vereador Bruno Cunha (Cidadania), e foi aprovado pelos demais
parlamentares.
Além
do vereadores, estiveram presentes Liliane Soares, representando a Associação
Blumenauense de Amigos dos Deficientes Auditivos (ABADA); Rafael dos Reis
Abreu, Vice-Diretor da UFSC, Campus Blumenau; Romeu Horst Fritzke, Diretor na
Secretaria de Desenvolvimento Social (SEMUDES); a ex-vereadora e ex-secretária da
Seidep e idealizadora do Paradesporto em Blumenau, Gisele Margot Chirolli; Liliane
Vieira, representando o Centro Municipal de Educação Alternativa (CEMEA); Marcela
de Souza, representando o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com
Deficiência (COMPED); Patrícia Manetta, representando a Sociedade Cultural
Amigos do Centro Braille de Blumenau (ACBB); Walter Souza, representando o
Conselho Municipal de Saúde e a ex-vereadora Mirim Jolie Weber.
O vereador
Bruno Cunha recordou que no último mandato teve a possibilidade de fazer outra
audiência pública que foi fundamental para identificar alguns dos problemas
nessa área e trabalhar de forma conjunta para muitas das ideias saírem do papel.
Disse que não nega o quando já se avançou na cidade em relação à inclusão da comunidade
surda. Ressaltou orgulho pela escola bilíngue Oscar Unbehaun, onde as crianças também
aprendem LIBRAS, e pelos cursos extensivos à comunidade ofertados após
indicação de seu mandato. “É preciso construir um legado de pessoas que
aprendam Libras para desenvolver respeito, empatia e para construirmos de
verdade uma sociedade mais inclusiva”, ressaltou.
Lembrou
ainda a lei aprovada na Câmara para que as pessoas da comunidade surda, quando
fizerem concurso público, possam ter os mesmos direitos de competitividade em relação
às pessoas que não são dessa comunidade. Disse que ao final da audiência deseja
sair com um calendário de ações, de estudos, para fazer todos os
encaminhamentos possíveis, como na última audiência proposta para esse público.
“Essa é, sobretudo, uma pauta humana e uma pauta que deve envolver as pessoas
que têm e as pessoas que não têm deficiência”.
André
Felipe do Nascimento, representante da Associação
dos Surdos de Blumenau – Asblu, pediu melhorias no edital do
concurso municipal para professor ACT, que prevê um professor intérprete, que
precisa ser ouvinte. Ele pontuou que o papel do intérprete é repassar a
informação para o aluno surdo, e não ensiná-lo, e pediu a diferenciação no edital.
Também disse que ao invés de instrutor de LIBRAS, o correto seria professor de
LIBRAS. Ainda disse que o edital para contratação de ACT não prevê a
questão da tradução e interpretação de LIBRAS, e é necessária essa
especificação mais clara. Também pediu que nesse concurso haja uma banca para avaliarem
a competência, a fluência, a capacidade e habilidade dos intérpretes.
Apontou
que existem intérpretes do município que não estão habilitados para o papel que
estão atuando, para realizar sua atividade dentro da sala de aula e isso
prejudica os alunos surdos. Também solicitou que o currículo, as diretrizes e
bases do sistema de educação, e todo o material disponível para os ouvintes
também sejam acessíveis para os surdos, pois pode faltar compreensão apenas
pela leitura dos documentos. Apontou a necessidade de que os eventos e cursos de
formação continuada também estejam disponíveis para os professores surdos. Sobre
o CEMEA, pediu um profissional que possa fazer uma ponte entre os pais e o
filho surdo, para que os pais compreendam o trabalho que é feito no Centro.
Pediu ainda mais clareza e comunicação entre os profissionais que atuam no
CEMEA e na escola bilíngue de LIBRAS, além de um profissional surdo que possa
fazer essa ponte, criar os materiais e ser responsável pelos professores surdos.
Ao final, pediu por um intérprete de LIBRAS dentro da Seidep, inclusive ofertando
inclusão dos surdos nas redes sociais da secretaria.
Rafael
dos Reis Abreu, representando a UFSC, anunciou que neste ano de 2024, ano em
que a universidade está completando 10 anos em Blumenau, o INES, o Instituto
Nacional de Educação de Surdos, aprovou o curso de Letras, Habilitação em
Libras no formato EAD. Disse que a expectativa é que esse curso inicie ainda
este ano, em agosto, com as atividades acontecendo na Rua João Pessoa. Segundo
ele, a expectativa é que haja um encontro presencial a cada duas semanas. “Temos
infraestrutura, temos corpo técnico que conta com professores da UFSC de
Florianópolis e também com tutores que serão contratados pelo INES”, disse,
acrescentando que a instituição está imensamente feliz em poder proporcionar
essa oportunidade à cidade de Blumenau, a oportunidade de formação, sem que
seja mais necessária essa mudança para Florianópolis.
Janaína
Molinari, presidente da ASBLU, da Associação dos Surdos de Blumenau, falou
sobre a necessidade de painel eletrônico para mostrar as senhas que são
chamadas no atendimento nas unidades de saúde. Também falou sobre a necessidade
de intérprete de LIBRAS para que os surdos possam receber atendimento tanto nos
postos de saúde quanto nos hospitais, além de pedir informações nos terminais
de transporte público. Disse que a disponibilização de um tablet para ligação
para um intérprete da prefeitura já auxiliaria na questão. Apontou que muitos
eventos em Blumenau, em especial na Vila Germânica, não têm acessibilidade para
a população surda. Falou sobre cartazes com informações importantes para a
população que podem contar com QR Code para acesso a um vídeo com um intérprete
de LIBRAS para essa população. Já sobre o Parajasc, disse que a abertura contava
com intérprete, mas o restante do evento não.
Liliane Soares, representando
a Associação Blumenauense de Amigos dos Deficientes Auditivos, a ABADA, também
falou sobre a dificuldade de acessibilidade da população surda em consultas
médicas, dizendo que muitos não têm conhecimento sobre a central telefônica que
conta com intérpretes, e por isso é importante difundir essa informação nas
unidades de saúde públicas e clínicas privadas também. Disse que em alguns
locais não é permitido o uso do tablet ou celular para ligar para a Central
dentro do consultório médico, o que precisa ser resolvido para que a população
surda possa ser devidamente atendida.
Bruna Cristina Gomes de Araújo
e Daniel, secretária de Inclusão da Pessoa com Deficiência e Paradesporto,
disse que a Secretaria tem apenas um ano e quatro meses, mas já fez um grande
trabalho até aqui e quer ainda mais. “Ouvi-los essa noite é importante para
saber qual a direção que a Seidep tem que tomar”, disse. Ela reconheceu a
necessidade de melhorias nos editais para contratação de profissionais ACTs,
disse que os vídeos nas redes sociais da secretaria em breve serão acessíveis
aos surdos e se comprometeu a intermediar uma conversa entre a escola bilíngue
e o Cemea. Comemorou o anúncio do curso de Letras com habilitação em LIBRAS na
UFSC em Blumenau. Também disse que melhorias podem ser adotadas para que os próximos
eventos na cidade, como o Parajasc, sejam mais acessíveis aos surdos. Falou da
luta da secretaria pela existência de intérpretes dentro do Hospital Santo
Antônio e que a secretaria quer que essa política esteja em outros hospitais da
cidade.
Gisele
Chirolli, ex-secretária e idealizadora da Seidep, lembrou de algumas conquistas
alcançadas pela secretaria junto à comunidade surda, em especial no
paradesporto. Disse que deseja que a Seidep cresça para que tenhamos mais
pessoas com deficiência capacitadas para ocupar os espaços, seja na
administração municipal, na Câmara de Vereadores ou em outras funções. Falou da
capacitação de médicos e enfermeiros para o atendimento à população surda e
sobre a difusão da informação acerca da existência da Central de Libras. Também
disse que seu objetivo, quando propôs a criação da secretaria, é que a pasta
cresça junto com as entidades, para que estas possam receber subvenções
maiores, pois são essas entidades que fazem o trabalho da ponta do terceiro
setor. Comentou ainda sobre a atuação da secretaria para fomentar a
empregabilidade e o empreendedorismo da população surda.
O
vereador Bruno Cunha ainda reconheceu o trabalho do presidente da Casa, Almir
Vieira (Progressistas), na adequação das vagas de estágio e da estrutura da
Câmara para pessoas com deficiência.
Marcela
de Souza, representando o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com
Deficiência, o Comped, relatou uma situação em que encontrou uma barreira de
acessibilidade no atendimento dentro do INSS. Falou da necessidade de um painel
com senha para chamar o paciente e também pediu por respeito e empatia da parte
dos médicos. Defendeu o uso dos tablets para contato com a Central de
Intérpretes de LIBRAS e também um curso básico de Libras para os profissionais
que atendem no órgão. “Já está na hora de o INSS melhorar, crescer e se
desenvolver na questão da adaptação das pessoas surdas. É uma instituição nacional,
mas hoje nós somos prejudicados lá dentro. Nós não entendemos as informações, o
médico às vezes não explica o que está acontecendo e eu sei que é desafiador,
mas nós precisamos lutar”, assinalou.
Patrícia
Manetta, representando a Sociedade Cultural Amigos do Centro Braille de
Blumenau, ACBB, esclareceu que além de cega, tem deficiência auditiva, utiliza
prótese auditiva e é mãe de um adulto surdo. Ela falou da dificuldade dobrada
para quem tem mais de uma deficiência, mesmo com a utilização de prótese, em
especial em ambientes com muito ruído. Reconheceu muitos avanços conquistados
pelas pessoas com deficiência e comemorou os editais prevendo vagas para
intérpretes e o curso de Letras com habilitação em LIBRAS na UFSC. Convidou a
população surda a se aprimorar e ocupar todos os espaços, e defendeu que todas
as pessoas com deficiência naturalizem a inclusão.
Walter
Souza, representando o Conselho Municipal de Saúde, falou da necessidade de as
demandas para a população com deficiência saírem do papel, e ressaltou que o
Conselho está engajado nessa causa. Comentou sobre a falta de capacitação para
profissionais da saúde da rede municipal para atendimento à população surda e
uso da Central de Intérpretes de LIBRAS. Falou da dificuldade de atendimento e
comunicação com pessoas com deficiência em sua atividade como motorista de
aplicativo, e assinalou que é necessária dedicação em aprender para continuar
prestando serviços. Ao final, colocou o Conselho Municipal de Saúde à
disposição da comunidade surda.
Jolie
Weber, ex-vereadora mirim de Blumenau, relatou que é filha de pais surdos e
nasceu ouvinte, e falou sobre o ensino de LIBRAS nas escolas. Ressaltou a
importância desse ensino para crianças, que têm mais facilidade de memorização,
e também para inclusão de alunos surdos. Disse que muitos surdos relatam que
sentiam solidão durante a fase escolar, pois ninguém conseguia se comunicar com
eles, e falou de seu medo de que sua irmã surda também passe por isso. Disse que
essa é uma questão de justiça e que irá lutar por essa causa.
Em
seguida foi aberta a tribuna para falas de pessoas da comunidade. Um dos pontos
levantados por Maiara foi a dificuldade de contato de pessoas surdas com
serviços de emergência, como o SAMU e o Corpo de Bombeiros. Disse que além de um
contato de WhatsApp da Polícia, é importante que os Bombeiros e o SAMU
disponibilizem essa facilidade. Giovanni Manetta, que tem pessoas surdas na
família, também defendeu mudanças para permitir o uso do celular em atendimentos
do INSS. Falou de mudanças que podem ser feitas no site da Prefeitura de
Blumenau para torná-lo acessível aos surdos e também aos cegos. Disse que todos
os hospitais deveriam contar com intérpretes de LIBRAS. Pediu por melhorias na
Lei 8.047/2014, para inclusão de mais entidades nos pedágios. Também defendeu a
inclusão da categoria dos surdo-olímpicos no rol de beneficiários do Bolsa
Atleta.
Roseane
falou da dificuldade de encontrar cursos particulares presenciais com
acessibilidade para surdos, pois a maioria são disponibilizados somente na
modalidade à distância. João Pedro, que é intérprete, falou das demandas desses
profissionais, destacando as exigências de formação para essa função, além da
jornada máxima de trabalho e o regime de revezamento, ressaltando que as vagas
ofertadas precisam estar de acordo com essas regras. Comentou ainda sobre a
escassez de profissionais e a necessidade de formações continuadas para
qualquer área de atuação a fim de suprir a demanda por intérpretes e tradutores
de LIBRAS.
André
Felipe do Nascimento, da Asblu, voltou à
tribuna e pediu por um curso básico de LIBRAS para os servidores que realizam
atendimentos na área pública, de médicos a bombeiros. Também falou que falta
qualificação para os profissionais que atendem na Central de LIBRAS, cobrando
formação para essas pessoas.
Ao
final o vereador Bruno Cunha, em suas considerações finais, agradeceu a todos
os presentes, sejam da comunidade surda, os intérpretes, representantes da
sociedade civil e do poder público. Disse que foi uma noite muito proveitosa
para que, juntos, seja possível avançar nessas políticas públicas. “Tudo aquilo
que vocês estiveram falando, estivemos anotando aqui, ponto a ponto, para que a
gente possa dar o devido encaminhamento e indicações a cada uma das secretarias”,
comprometeu-se.
“Todas
as pautas de todas essas categorias são fundamentais para que a gente possa
construir uma cidade mais diversa, uma cidade plural, uma cidade onde todos
sejam respeitados, e ela depende de todos nós”, disse, acrescentando que “a
inclusão é a celebração do nosso potencial humano coletivo”.
A audiência pública pode ser acessada na íntegra pelo YouTube.
Veja Também
Galeria de fotos da audiência pública - Parte I
Galeria de fotos da audiência pública - Parte II
Vídeo completo da audiência pública
Audiência pública na Câmara expõe necessidade de avanços em políticas públicas para comunidade surda
A
Câmara de Vereadores de Blumenau realizou, na noite desta quarta-feira (5), no
Plenário da Casa, uma audiência pública com a Associação dos Surdos de Blumenau
(ASBLU), para debater projetos e assuntos como desenvolvimento inclusivo,
identificação de problemas, acessibilidade e representatividade. O debate
atendeu ao Requerimento nº 795, de
autoria do vereador Bruno Cunha (Cidadania), e foi aprovado pelos demais
parlamentares.
Além
do vereadores, estiveram presentes Liliane Soares, representando a Associação
Blumenauense de Amigos dos Deficientes Auditivos (ABADA); Rafael dos Reis
Abreu, Vice-Diretor da UFSC, Campus Blumenau; Romeu Horst Fritzke, Diretor na
Secretaria de Desenvolvimento Social (SEMUDES); a ex-vereadora e ex-secretária da
Seidep e idealizadora do Paradesporto em Blumenau, Gisele Margot Chirolli; Liliane
Vieira, representando o Centro Municipal de Educação Alternativa (CEMEA); Marcela
de Souza, representando o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com
Deficiência (COMPED); Patrícia Manetta, representando a Sociedade Cultural
Amigos do Centro Braille de Blumenau (ACBB); Walter Souza, representando o
Conselho Municipal de Saúde e a ex-vereadora Mirim Jolie Weber.
O vereador
Bruno Cunha recordou que no último mandato teve a possibilidade de fazer outra
audiência pública que foi fundamental para identificar alguns dos problemas
nessa área e trabalhar de forma conjunta para muitas das ideias saírem do papel.
Disse que não nega o quando já se avançou na cidade em relação à inclusão da comunidade
surda. Ressaltou orgulho pela escola bilíngue Oscar Unbehaun, onde as crianças também
aprendem LIBRAS, e pelos cursos extensivos à comunidade ofertados após
indicação de seu mandato. “É preciso construir um legado de pessoas que
aprendam Libras para desenvolver respeito, empatia e para construirmos de
verdade uma sociedade mais inclusiva”, ressaltou.
Lembrou
ainda a lei aprovada na Câmara para que as pessoas da comunidade surda, quando
fizerem concurso público, possam ter os mesmos direitos de competitividade em relação
às pessoas que não são dessa comunidade. Disse que ao final da audiência deseja
sair com um calendário de ações, de estudos, para fazer todos os
encaminhamentos possíveis, como na última audiência proposta para esse público.
“Essa é, sobretudo, uma pauta humana e uma pauta que deve envolver as pessoas
que têm e as pessoas que não têm deficiência”.
André
Felipe do Nascimento, representante da Associação
dos Surdos de Blumenau – Asblu, pediu melhorias no edital do
concurso municipal para professor ACT, que prevê um professor intérprete, que
precisa ser ouvinte. Ele pontuou que o papel do intérprete é repassar a
informação para o aluno surdo, e não ensiná-lo, e pediu a diferenciação no edital.
Também disse que ao invés de instrutor de LIBRAS, o correto seria professor de
LIBRAS. Ainda disse que o edital para contratação de ACT não prevê a
questão da tradução e interpretação de LIBRAS, e é necessária essa
especificação mais clara. Também pediu que nesse concurso haja uma banca para avaliarem
a competência, a fluência, a capacidade e habilidade dos intérpretes.
Apontou
que existem intérpretes do município que não estão habilitados para o papel que
estão atuando, para realizar sua atividade dentro da sala de aula e isso
prejudica os alunos surdos. Também solicitou que o currículo, as diretrizes e
bases do sistema de educação, e todo o material disponível para os ouvintes
também sejam acessíveis para os surdos, pois pode faltar compreensão apenas
pela leitura dos documentos. Apontou a necessidade de que os eventos e cursos de
formação continuada também estejam disponíveis para os professores surdos. Sobre
o CEMEA, pediu um profissional que possa fazer uma ponte entre os pais e o
filho surdo, para que os pais compreendam o trabalho que é feito no Centro.
Pediu ainda mais clareza e comunicação entre os profissionais que atuam no
CEMEA e na escola bilíngue de LIBRAS, além de um profissional surdo que possa
fazer essa ponte, criar os materiais e ser responsável pelos professores surdos.
Ao final, pediu por um intérprete de LIBRAS dentro da Seidep, inclusive ofertando
inclusão dos surdos nas redes sociais da secretaria.
Rafael
dos Reis Abreu, representando a UFSC, anunciou que neste ano de 2024, ano em
que a universidade está completando 10 anos em Blumenau, o INES, o Instituto
Nacional de Educação de Surdos, aprovou o curso de Letras, Habilitação em
Libras no formato EAD. Disse que a expectativa é que esse curso inicie ainda
este ano, em agosto, com as atividades acontecendo na Rua João Pessoa. Segundo
ele, a expectativa é que haja um encontro presencial a cada duas semanas. “Temos
infraestrutura, temos corpo técnico que conta com professores da UFSC de
Florianópolis e também com tutores que serão contratados pelo INES”, disse,
acrescentando que a instituição está imensamente feliz em poder proporcionar
essa oportunidade à cidade de Blumenau, a oportunidade de formação, sem que
seja mais necessária essa mudança para Florianópolis.
Janaína
Molinari, presidente da ASBLU, da Associação dos Surdos de Blumenau, falou
sobre a necessidade de painel eletrônico para mostrar as senhas que são
chamadas no atendimento nas unidades de saúde. Também falou sobre a necessidade
de intérprete de LIBRAS para que os surdos possam receber atendimento tanto nos
postos de saúde quanto nos hospitais, além de pedir informações nos terminais
de transporte público. Disse que a disponibilização de um tablet para ligação
para um intérprete da prefeitura já auxiliaria na questão. Apontou que muitos
eventos em Blumenau, em especial na Vila Germânica, não têm acessibilidade para
a população surda. Falou sobre cartazes com informações importantes para a
população que podem contar com QR Code para acesso a um vídeo com um intérprete
de LIBRAS para essa população. Já sobre o Parajasc, disse que a abertura contava
com intérprete, mas o restante do evento não.
Liliane Soares, representando
a Associação Blumenauense de Amigos dos Deficientes Auditivos, a ABADA, também
falou sobre a dificuldade de acessibilidade da população surda em consultas
médicas, dizendo que muitos não têm conhecimento sobre a central telefônica que
conta com intérpretes, e por isso é importante difundir essa informação nas
unidades de saúde públicas e clínicas privadas também. Disse que em alguns
locais não é permitido o uso do tablet ou celular para ligar para a Central
dentro do consultório médico, o que precisa ser resolvido para que a população
surda possa ser devidamente atendida.
Bruna Cristina Gomes de Araújo
e Daniel, secretária de Inclusão da Pessoa com Deficiência e Paradesporto,
disse que a Secretaria tem apenas um ano e quatro meses, mas já fez um grande
trabalho até aqui e quer ainda mais. “Ouvi-los essa noite é importante para
saber qual a direção que a Seidep tem que tomar”, disse. Ela reconheceu a
necessidade de melhorias nos editais para contratação de profissionais ACTs,
disse que os vídeos nas redes sociais da secretaria em breve serão acessíveis
aos surdos e se comprometeu a intermediar uma conversa entre a escola bilíngue
e o Cemea. Comemorou o anúncio do curso de Letras com habilitação em LIBRAS na
UFSC em Blumenau. Também disse que melhorias podem ser adotadas para que os próximos
eventos na cidade, como o Parajasc, sejam mais acessíveis aos surdos. Falou da
luta da secretaria pela existência de intérpretes dentro do Hospital Santo
Antônio e que a secretaria quer que essa política esteja em outros hospitais da
cidade.
Gisele
Chirolli, ex-secretária e idealizadora da Seidep, lembrou de algumas conquistas
alcançadas pela secretaria junto à comunidade surda, em especial no
paradesporto. Disse que deseja que a Seidep cresça para que tenhamos mais
pessoas com deficiência capacitadas para ocupar os espaços, seja na
administração municipal, na Câmara de Vereadores ou em outras funções. Falou da
capacitação de médicos e enfermeiros para o atendimento à população surda e
sobre a difusão da informação acerca da existência da Central de Libras. Também
disse que seu objetivo, quando propôs a criação da secretaria, é que a pasta
cresça junto com as entidades, para que estas possam receber subvenções
maiores, pois são essas entidades que fazem o trabalho da ponta do terceiro
setor. Comentou ainda sobre a atuação da secretaria para fomentar a
empregabilidade e o empreendedorismo da população surda.
O
vereador Bruno Cunha ainda reconheceu o trabalho do presidente da Casa, Almir
Vieira (Progressistas), na adequação das vagas de estágio e da estrutura da
Câmara para pessoas com deficiência.
Marcela
de Souza, representando o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com
Deficiência, o Comped, relatou uma situação em que encontrou uma barreira de
acessibilidade no atendimento dentro do INSS. Falou da necessidade de um painel
com senha para chamar o paciente e também pediu por respeito e empatia da parte
dos médicos. Defendeu o uso dos tablets para contato com a Central de
Intérpretes de LIBRAS e também um curso básico de Libras para os profissionais
que atendem no órgão. “Já está na hora de o INSS melhorar, crescer e se
desenvolver na questão da adaptação das pessoas surdas. É uma instituição nacional,
mas hoje nós somos prejudicados lá dentro. Nós não entendemos as informações, o
médico às vezes não explica o que está acontecendo e eu sei que é desafiador,
mas nós precisamos lutar”, assinalou.
Patrícia
Manetta, representando a Sociedade Cultural Amigos do Centro Braille de
Blumenau, ACBB, esclareceu que além de cega, tem deficiência auditiva, utiliza
prótese auditiva e é mãe de um adulto surdo. Ela falou da dificuldade dobrada
para quem tem mais de uma deficiência, mesmo com a utilização de prótese, em
especial em ambientes com muito ruído. Reconheceu muitos avanços conquistados
pelas pessoas com deficiência e comemorou os editais prevendo vagas para
intérpretes e o curso de Letras com habilitação em LIBRAS na UFSC. Convidou a
população surda a se aprimorar e ocupar todos os espaços, e defendeu que todas
as pessoas com deficiência naturalizem a inclusão.
Walter
Souza, representando o Conselho Municipal de Saúde, falou da necessidade de as
demandas para a população com deficiência saírem do papel, e ressaltou que o
Conselho está engajado nessa causa. Comentou sobre a falta de capacitação para
profissionais da saúde da rede municipal para atendimento à população surda e
uso da Central de Intérpretes de LIBRAS. Falou da dificuldade de atendimento e
comunicação com pessoas com deficiência em sua atividade como motorista de
aplicativo, e assinalou que é necessária dedicação em aprender para continuar
prestando serviços. Ao final, colocou o Conselho Municipal de Saúde à
disposição da comunidade surda.
Jolie
Weber, ex-vereadora mirim de Blumenau, relatou que é filha de pais surdos e
nasceu ouvinte, e falou sobre o ensino de LIBRAS nas escolas. Ressaltou a
importância desse ensino para crianças, que têm mais facilidade de memorização,
e também para inclusão de alunos surdos. Disse que muitos surdos relatam que
sentiam solidão durante a fase escolar, pois ninguém conseguia se comunicar com
eles, e falou de seu medo de que sua irmã surda também passe por isso. Disse que
essa é uma questão de justiça e que irá lutar por essa causa.
Em
seguida foi aberta a tribuna para falas de pessoas da comunidade. Um dos pontos
levantados por Maiara foi a dificuldade de contato de pessoas surdas com
serviços de emergência, como o SAMU e o Corpo de Bombeiros. Disse que além de um
contato de WhatsApp da Polícia, é importante que os Bombeiros e o SAMU
disponibilizem essa facilidade. Giovanni Manetta, que tem pessoas surdas na
família, também defendeu mudanças para permitir o uso do celular em atendimentos
do INSS. Falou de mudanças que podem ser feitas no site da Prefeitura de
Blumenau para torná-lo acessível aos surdos e também aos cegos. Disse que todos
os hospitais deveriam contar com intérpretes de LIBRAS. Pediu por melhorias na
Lei 8.047/2014, para inclusão de mais entidades nos pedágios. Também defendeu a
inclusão da categoria dos surdo-olímpicos no rol de beneficiários do Bolsa
Atleta.
Roseane
falou da dificuldade de encontrar cursos particulares presenciais com
acessibilidade para surdos, pois a maioria são disponibilizados somente na
modalidade à distância. João Pedro, que é intérprete, falou das demandas desses
profissionais, destacando as exigências de formação para essa função, além da
jornada máxima de trabalho e o regime de revezamento, ressaltando que as vagas
ofertadas precisam estar de acordo com essas regras. Comentou ainda sobre a
escassez de profissionais e a necessidade de formações continuadas para
qualquer área de atuação a fim de suprir a demanda por intérpretes e tradutores
de LIBRAS.
André
Felipe do Nascimento, da Asblu, voltou à
tribuna e pediu por um curso básico de LIBRAS para os servidores que realizam
atendimentos na área pública, de médicos a bombeiros. Também falou que falta
qualificação para os profissionais que atendem na Central de LIBRAS, cobrando
formação para essas pessoas.
Ao
final o vereador Bruno Cunha, em suas considerações finais, agradeceu a todos
os presentes, sejam da comunidade surda, os intérpretes, representantes da
sociedade civil e do poder público. Disse que foi uma noite muito proveitosa
para que, juntos, seja possível avançar nessas políticas públicas. “Tudo aquilo
que vocês estiveram falando, estivemos anotando aqui, ponto a ponto, para que a
gente possa dar o devido encaminhamento e indicações a cada uma das secretarias”,
comprometeu-se.
“Todas
as pautas de todas essas categorias são fundamentais para que a gente possa
construir uma cidade mais diversa, uma cidade plural, uma cidade onde todos
sejam respeitados, e ela depende de todos nós”, disse, acrescentando que “a
inclusão é a celebração do nosso potencial humano coletivo”.
A audiência pública pode ser acessada na íntegra pelo YouTube.
Veja Também
Galeria de fotos da audiência pública - Parte I
Galeria de fotos da audiência pública - Parte II
Vídeo completo da audiência pública